Bom Princípio e Feliz: dados do Censo do IBGE deixam administrações em alerta

Na sexta-feira, as equipes que atuaram na realização do Censo do IBGE nas cidades da região tiveram reunião com as administrações municipais de Bom Princípio e Feliz. Nos encontros, foram apresentadas as conclusões do trabalho e, nos dois casos, chamou a atenção a contagem da população, inferior à estimativa e também à expectativa que havia.

Em Bom Princípio, o Censo apontou a população de 13.143 pessoas, ao passo que na Feliz o número indica 13.015 habitantes. Nos dois casos, bem inferior à estimativa que o próprio IBGE havia feito em 2021, quando apontou 14.446 habitantes em Bom Princípio e de 13.728 na Feliz.

As duas administrações contestam os números apresentados e se movimentam para comprovar que o número de habitantes é maior. A considerar o número de habitantes que o IBGE apresentou na semana passada, tanto Bom Princípio quanto Feliz teriam uma perda muito grande de recursos repassados pelo Fundo de Participação dos Municípios, o FPM, que é uma das principais fontes de receita para esses e todos os demais municípios da região.

Em 2021, depois que o IBGE apresentou a estimativa da população, as duas Prefeituras foram enquadradas em novo grupo para cálculo de distribuição do FPM, no caso, municípios com mais de 13.600 habitantes. Como nos dois casos a contagem mostra menos do que isso, há o risco de que cada um dos municípios possa perder até R$ 5 milhões em FPM por ano.

Por conta disso, tanto Bom Princípio quanto Feliz se mobilizam para comprovar que nas duas cidades a população é bem maior do que o indicado. ‘O trabalho do Censo aqui na região terminou, de forma oficial, no dia 28 de março, mas ainda há uma estrutura para atendimentos em São Leopoldo. Vamos reunir documentos para comprovar que a nossa população é maior’, afirma o prefeito bom-principiense, Fábio Persch. ‘Há muitas casas onde não foi aplicado o questionário do IBGE e outras onde as informações estão erradas’, reforça o prefeito de Feliz, Junior Freiberger.

Bom Princípio contesta divisas

Após receber os dados do Censo do IBGE, na sexta-feira, a administração bom-principiense iniciou uma grande mobilização para identificar possíveis razões para as quais a contagem populacional ficou tão abaixo do previsto. E uma das razões encontradas para tal é a diferença entre os limites do município com cidades vizinhas, com o que automaticamente a população que historicamente pertence à terra do moranguinho passou a contar para outras cidades.

De acordo com o prefeito Fábio Persch e o secretário do Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente, Daniel Lermen, o mapa cartográfico do Estado, que serve como base para o trabalho do IBGE, apresenta erros em localidades como Vale das Flores, Morro Bambu, Canto Calsing, Passo Salseiro, Paraíso e na região do Britador (Bom Fim). ‘Pelo mapa do Estado, bem mais da metade do Vale das Flores pertenceria a Tupandi’, observa Daniel.

Toda a região do Canto Calsing e parte do Passo Salseiro pertenceriam a Harmonia e uma área grande do Morro Bambu faria parte do município de Barão. ‘Na região do Britador e do Bom Fim, as áreas onde tem a Autoelétrica Marinho, a Henz Veículos e as cerca de 200 pessoas que moram ali pertenceriam a Feliz’, lembra Daniel. ‘Apenas com a regularização dessas divisas, com certeza nós já passamos dos 13.600 habitantes’, acrescenta o prefeito Fábio.

O setor de Engenharia do município está reunindo documentos, como o mapa oficial de Bom Princípio de acordo com o que consta na lei da criação do município, para encaminhar ao IBGE. Entretanto, qualquer alteração no mapa cartográfico do Estado envolve bastante burocracia, inclusive com aprovação de lei na Assembleia Legislativa.

Além das questões relacionadas a limites, outros dados do IBGE também são contestados pela administração. O prefeito Fábio e o secretário Daniel observam que o estudo apontou que há, no município, 586 imóveis (casas e apartamentos) desocupados. Os gestores lembram, ainda, que o município conta com 10.263 eleitores (eleição de 2022) e 16.700 pessoas cadastradas no Cartão SUS. ‘Nos últimos anos, nas escolas de educação infantil tivemos um aumento de 250 crianças e nas séries iniciais do ensino fundamental um aumento de 300 alunos.

Ajuda da comunidade

Em busca de moradores que eventualmente não responderam ao questionário do Censo, a administração de Bom Princípio solicita que essas pessoas entrem em contato com seu agente de saúde, o posto de saúde da sua região ou na prefeitura. ‘Vamos repassar esses nomes para a coordenação do Censo, para que esses moradores sejam incluídos na contagem populacional’, afirma o prefeito Fábio Persch.

Também a administração felizense lançou uma grande mobilização no começo desta semana para comprovar ao IBGE que a população é maior do que os 13.015 habitantes apontados pelo Censo recém finalizado. Neste caso, o número de eleitores aptos a votar na eleição de 2022 foi de 10.792, ao passo que o número de pessoas inscritas com o Cartão SUS é de 16.000.

De acordo com o prefeito Junior Freiberger, o relatório do IBGE aponta que em 206 casas os recenseadores não conseguiram contato. O gestor, no entanto, acredita que o número de residências onde o questionário não foi aplicado seja ainda maior. ‘Além disso, parte das informações prestadas estão erradas’, sustenta.

O gestor lembra, ainda, que também no caso de Feliz há erros na divisa, em especial, na região de Arroio Feliz. Ali, segundo Junior, o mapa cartográfico do Estado coloca para Vale Real uma área na qual residem ao menos 50 famílias que reconhecidamente fazem parte do território felizense. ‘A nossa expectativa era de que o Censo do IBGE indicaria que a nossa população estava, inclusive, acima da estimativa feita pelo próprio IBGE em 2021’, reitera o dirigente.

A partir dos dados apresentados pelo IBGE, o município definiu algumas estratégias com o objetivo de atingir as famílias que ainda não haviam respondido ao Censo 2022. Isso inclui vídeo explicativo do prefeito pedindo ajuda e instruindo as pessoas que ainda não responderam ao questionário e envio de avisos para os pais através da agenda escolar dos alunos. As agentes de saúde também estão mobilizadas na identificação de famílias de todo o município que não responderam ao Censo. Esses casos serão informados pela administração ao IBGE, para que a contagem seja complementada.